MERIBÉRICA/LÍBER - Um marco na relação Brasil/Portugal nos Quadrinhos/Bandas Desenhadas







Na década de 80 o Brasil viveu um boom na publicação de quadrinhos devido ao bom momento econômico e as expectativas com o Governo do Presidente José Sarney, o primeiro no período pós-ditadura. As bancas de jornais eram o alvo principal, embora as livrarias também tivessem importante participação, mas nada na proporção dos dias de hoje.
Martins Fontes e L&PM disputavam as livrarias, nas bancas a Editora Abril reinava e começava a diversificar seus produtos, inovava com publicações em formato americano e trazia para nós Watchmen, O Cavaleiro das Trevas, Ronin e várias outras mini-séries. Outras editoras aproveitavam o momento e tentavam se inserir: a Globo publicou suas graphic novels, manteve firme suas revistas da linha infantil com Maurício de Souza que havia migrado para lá e disputou títulos da Marvel com a Abril; a Cedibra trazia as novas revistas de qualidade da americana First Comics e publicava o Lobo Solitário; a Circo investia no material nacional para adultos com Laerte, Angeli e Glauco.
No meio de tudo isso aportaram no Rio de Janeiro e em São Paulo os álbuns da editora lusitana Meribérica/Líber. Distribuída nas poucas comic shops da época(a Comix era uma banca na Alameda Lorena em São Paulo e a Livraria Muito Prazer era outro ponto de encontro dos aficcionados por quadrinhos, nesta época morava em Santos e ia ao menos uma vez por mês nas duas) os álbuns luxuosos caíram no gosto do público, a editora foi tomando fôlego e acreditando no bom momento e nas possibilidades de consumo brasileiro, assim surgiu a Meribérica do Brasil.
Chegaram por aqui títulos como Luís Má Sorte, Druuna, Blake e Mortimer, uma versão de Asterix em português de Portugal, Os Passageiros do Vento de Bourgeon, as primeiras obras de Enki Bilal, Moebius e muitos outros. A esses se somaram um ábum do Leão Negro, produção brasileira que a editora investiu e distribuiu. Passamos a nos acostumar com a nomenclatura Banda Desenhada que os portugueses davam as histórias em quadrinhos e com as gírias que se faziam presentes nos textos das mesmas.
A expectativa de venda era tanta que a Meribérica  fez chegar em bancas seus álbuns junto com sua revista Selecções BD que apresentava histórias curtas e longas em capítulos. Mais de duas centenas de obras da editora foram distribuídas por aqui, esta participou de um dos momentos mais ricos da distribuição, consolidação e divulgação dos quadrinhos no Brasil chegando a rodar um catálogo exclusivo para circular em nosso país.
Sem essa fase dos anos 80 do século XX com certeza não teríamos chegado a que agora vivemos nesse início do século XXI em grau de público e material ofertado. O ali produzido foi a semente que plantou o mercado que agora colhemos, essa geração em que me incluo consumia na adolescência esse material e vibra com a volta do mesmo em novas edições da Editora Nemo. Há uma sensação deliciosa de um deja vu e é inevitável um sorriso no rosto ao ver quadrinhos de tão grande qualidade voltarem as prateleiras das livrarias.
Quanto a Meribérica, a vida foi dura com a editora. Sua filial brasileira fechou num episódio mal explicado e decepcionou vários leitores, como muitas outras editoras no ocaso do Plano Cruzado. Em Portugal a mesma teve uma tentativa de reerguer-se no início dos anos 2000 publicando três ou quatro álbuns novos, foi varrida pela crise econômica que se anunciava naquele continente, esta vitimou também outras editoras que a sucederam, como a Vitamina BD. 
Só agora, percorrendo a segunda década do século XXI, parece que o mercado consumidor de HQs está consolidado o suficiente para sobreviver aos percalços da economia e seguir publicando o que há de melhor no mundo, inclusive obras portuguesas que voltam por essas paragens depois de tanto tempo sem figurar entre nós, exemplo disso é o álbum As Aventuras de Dog Mendonça e Pizzaboy que a Devir trouxe para o nosso país.







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